Diário de bordo
Dia 07, 08 e 09 - 25.05.2017 - Ingeniero Juaréz - Argentina
Agora, sem a companhia do nosso amigo Natal, eu, Alex, Toninho e Ivan,
nos deparamos com uma manhã nublada, sem chuva, mas o estresse para retiramos
as motos da garagem do Hotel Indiano, em Ingeniero Juaréz, sair da cidade até
alcançarmos a Ruta 81, foi pura adrenalina.
Nossa meta era seguirmos até Purmamarca-AR para pernoite, mas as condições
da estrada só iam piorando, cansamos de ver por todos os locais que passamos,
porcos selvagens, cabritos, ovelhas, gaviões, etc. invadindo o asfalto e, por
muitas vezes, nos obrigando a quase parar.
Eu ia capitaneando e, de repente, nos deparamos com um trecho de cerca
de 10 metros sem asfalto e coberto por um mix de lama, cascalho e um tipo de
argila que grudava em tudo. Perdi controle da Goldwing e cai, o Alex, que vinha
logo atrás com a BMW, idem.
Seguindo em frente, de repente, deparamos com um trecho da Ruta 81
interrompido e um desvio lateral com cerca de 2 km, informado por um
funcionário da obra.
O Toninho, que tinha passado incólume pelo trecho onde caímos, resolveu
encarar e caiu, insisti para não continuar e disse ao Ivan que iriamos retornar.
Ainda conseguimos ver o Toninho cair mais uma vez e o Ivan ajudando ele a
levantar a moto.
Manobramos nossas motos com todo o cuidado, avisamos aos dois que
voltaríamos. Como já havíamos rodado cerca de 250 km e não vimos nenhum posto
de gasolina, tivemos que nos arrastar de tão baixa velocidade para retornamos
ao posto em Ingeniero Juaréz, percorrendo 450 Km sem abastecer. Pensei que a
minha ulcera fosse perfurar.
Decidimos procurar vaga no Hotel Parador, que ficava na Rodovia, assim
não teríamos que viver novamente o inferno de retornar ao Hotel Indiano.
Estávamos retirando parte do barro que grudou nas motos e em nossas
roupas com uma mangueira de agua emprestada pelo hotel, de repente, para uma
viatura da policia e saem 3 policiais armados em nossa direção, ai karai, o que
vai ser? “Podemos sacar unas fotos das motos”, kkk relax.
A noite discutimos sobre o que fazer e decidimos por ir para Mendoza
pegando um trecho da Ruta 95 e com o primeiro pernoite em Villa Angela.
Na manhã seguinte, com bastante chuva, partimos...
Andamos uns 170 km pela Ruta 81, admirando a precariedade da estrada que
já havíamos passado, vimos num posto com uma cara boa, abastecemos e fizemos um
bom lanche, pagando tudo com o cartão de credito, coisa civilizada. Foi um
momento de alegria, confesso.
Seguindo na Ruta 95, no sentido oposto do que viemos de Asunción. As
dificuldades foram aumentado e depois de 20 km, avistei uma mancha no asfalto
que não tinha barro, mas umas irregularidades: “não colocaram aquela maldita
terra para tapar os buracos então vai da pra passar”, e num espaço de 30 cm
achei que era seguro e resolvi arriscar, diminuindo bastante a velocidade e,
segundo o Alex, a roda traseira escorregou na terra molhada e misturada com
pedriscos de asfalto triturado a BMW rodopiou para a esquerda, minha perna
ficou debaixo da moto e o meu corpo girou sobre este ponto que estava fixo e
provocou uma fratura.
Avisei pelo comunicador ao Alex do ocorrido logo em seguida parou um
carro e uma moto de moradores locais que, seguindo minhas orientações,
providenciaram a imobilização da perna, o que foi feita com um cabo de vassoura
quebrado, uma corda e muita habilidade do Edgardo que, gentilmente me levou até
um Centro de Saúde em Comandante Fontana onde me prestaram os primeiros
socorros, tiraram um Raio X que revelou ser um caso cirúrgico, bora pra São
Paulo.
O Alex tomou as providências da guarda das motos e retirada dos nossos
pertences pessoais, enquanto eu contatava a Adriana (esposa) e o Igor (Corretor)
a nos ajudar com as passagens e logística para retorno ao Brasil.
Seguindo o protocolo medico, fui transferido para o Hospital Central de
Formosa de ambulância para avaliação e emissão de autorização para embarcar em
voo comercial ao Brasil.
Contratamos um carro “minúsculo” e já com uma passageira (Mãe do
motorista) para seguir até Assunção - Paraguai e nós, com um monte de bagagem.
Por cerca de 250 km conhecemos toda a discografia de Romeo Santos...
Na fronteira Argentina/Paraguai, o Alex os carimbou na Aduana Argentina,
nenhuma informação sobre a Aduana Paraguaia, de novo...
No embarque do aeroporto de Assunção, ao passarmos pelo controle de
passaporte, não tínhamos o carimbo de entrada e a solução, pagar a multa.
Ufa... bora entrar logo nesse avião.
Depois de uma placa e 10 parafusos, num quarto do Einstein, resolvi
escrever com a ajuda do Alex, essa resenha.
Que sirva de aprendizado a todos nós motociclistas.
Lições aprendidas:
- A comunicação permanente entre os motociclistas durante a viagem é
mandatória, preferencialmente por via Bluetooth, pois não há nenhum “delay”.
- As estradas secundarias na América Latina são muito precárias, não são
para motos Touring.
- Montem um plano de evacuação rápida em caso de acidente, acreditem, a
medicina nesses pequenos povoados é extremamente limitada, no mínimo.
- Para não passar apuros, ande sempre com alguma moeda local, mesmo se
depois tiver que perde-la.
- Se as condições das estradas e climáticas não forem favoráveis, não
insista, volte, nada vai melhorar.
- Nunca trafegue a noite em lugares que não conheça.
- Roupas com proteção adequada são fundamentais, estou sem nenhuma
escoriação.
Abraços a todos,
Marco Fraga e Alex Fraga
Time Alaska